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Funeral

Funeral

Funeral

Hoje é a última festa da minha vida. Pensei que este dia nunca chegasse. Consegui reunir toda a minha família para um único evento, esperei toda a minha vida por este momento.

Tenho três filhos e duas filhas. Tive o meu primeiro filho com a minha primeira esposa, um filho com a minha segunda esposa, e os restantes três filhos com a minha terceira esposa.

Conheci a minha primeira esposa quando estava no meu décimo ano na escola secundária. Ela tinha um olhar lindo de morrer, e percebi logo que ela era a mulher da minha vida. Começámos a namorar pouco tempo depois e namorámos durante cinco anos antes de a pedir em casamento. Ela aceitou e quando nós tínhamos 21 anos casámo-nos. Pensei que ia durar para sempre, mas a seguir ao casamento tudo começou a correr mal. Uns dias depois do casamento, ela disse-me que estava grávida do nosso primeiro filho. Fiquei feliz, mas a minha esposa não ficou. Ela queria estudar no estrangeiro mas, como engravidou, não pôde. Em vez de tomar conta de si própria, começou a culpar-me. Quando o bebé finalmente nasceu, estávamos separados e passado pouco tempo finalizámos o divórcio.

No dia do meu 24.º aniversário, casei-me pela segunda vez. Eu não me queria casar, mas não tive qualquer hipótese de rejeitá-la quando ela me contou que estava grávida de mim. Pedi um teste de paternidade para ver se eu era realmente o pai e os resultados confirmaram as minhas
dúvidas: o menino não era meu.

Separei-me, mas não me divorciei. Estava a preparar-me para pagar a educação do meu primeiro filho, e não quis estar divorciado duas vezes antes de chegar aos 25 anos. O tempo foi passando e, depois de um ano e meio, voltei para a minha segunda mulher. Nove mezes depois, nasceu o meu segundo filho. Estava tão feliz e outra vez pensei que este casamento iria durar para sempre. Infelizmente, não aconteceu. Uma noite, cheguei do trabalho e apanhei-a na cama com o meu melhor amigo. Arranjaram desculpas, mas, depois desse dia, nunca fui capaz de perdoar a minha segunda esposa. Ela já me tinha traído duas vezes, e não confiava que ela não o fizesse mais uma vez.

Aos 28 anos, eu tinha dois filhos e estava a pagar os estudos de ambos. A minha primeira esposa ainda não me dirigia a palavra, culpando-me a mim por ela não conseguir uma carreira de fama. A minha segunda esposa não era de confiança. A minha única distracção era o trabalho. Eu trabalhei desde os 20 anos como consultor financeiro. Estive sempre tão feliz no meu emprego e não o queria perder. Infelizmente, mais uma vez, perdi aquilo que adorava. Esse que era o meu melhor amigo roubou-me o meu emprego porque o dono da companhia era melhor amigo do seu tio. Eu estava desesperado e fiz aquilo que achei que era o mais certo: vinguei-me.

Nunca irei compreender como perdi a cabeça dessa maneira, mas a verdade é que matei aquele que foi o meu melhor amigo de infância. Deram-me dez anos na prisão, e perdi o direito de ver os meus filhos…

Passaram-se os dez anos. A minha face estava notavelmente mais velha e tinha muitos cabelos brancos. Eu estava arrependido daquilo que tinha feito e nunca parei de pensar nos meus filhos. Os dois já estavam crescidos mas não queriam nada com o pai. Cada vez que ouvia o som
dos passarinhos, pensava neles.

Finalmente fiquei livre aos 40 anos. O meu problema era não ter emprego e não ter uma vida. Não sabia o que deveria fazer com a minha vida. Depois, aconteceu-me um milagre; eu estava a atrevessar a estrada e fui atropelado por uma mulher, a minha futura terceira esposa. Ela
tinha menos seis anos do que eu, mas senti logo que ela era especial. Casámo-nos e tivemos três filhos juntos.

Tinha 48 anos e estava outra vez feliz da vida. Encontrei um emprego estável e tinha uma família. Eu nunca esqueci os meus filhos que, contudo, nunca mais vi, mas eu pedia tanto que voltassem! Eu queria abraçá-los e gostaria tanto de vê-los crescer. Tinha esperança de ter todos
os meus filhos juntos mas um dia tudo mudou.

Eu estava a conduzir o meu carro na auto-estrada quando um homem sob a influência do alcóol chocou com o meu carro. Não sobrevivi ao acidente e faleci com 48 anos.

Hoje, estou aqui com o caixão aberto e vejo os meus cinco filhos reunidos. Quando estava vivo, nunca tive oportunidade de tê-los juntos comigo, tive que esperar até hoje. A minha primeira esposa, o amor da minha vida, tem lágrimas a correr pelos olhos. Tanto ódio que sentia por mim, e agora que eu estou morto, porque é que ela não sorri? Eu sei que errei muito na minha vida, mas eu acho que merecia ter um momento com os meus cinco filhos enquanto vivo. Eu lutei tanto por isso, mas, enquanto vivo, nunca resultou. Tive que morrer, mas consegui.

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